Bolsas
do governo reduzem a miséria a curto prazo, ajudam a eleger
presidentes, dão a milhões de pobres acesso a geladeira, televisão,
fogão e carro. Elogiável. Mas esmolas não dão dignidade a longo prazo,
não mudam o futuro do Brasil. Educação e saúde sim. E até hoje não são
prioridades. Por isso a renda continua tão desigual. Por isso temos 19
“hermanos” da América Latina à nossa frente.
Isso
não é um problema só do PT nem só de Lula ou Dilma. O Brasil fechou os
olhos historicamente à desigualdade. Elegeu um metalúrgico na esperança
de virar o jogo. Sonhávamos com avanços sociais muito maiores. Nós,
contribuintes, que já pagamos impostos escorchantes, ajudamos Lula a
transferir um pouquinho de renda para miseráveis que ganham de acordo
com o número de filhos. Isso não parece receita de vida sustentável.
Aumentamos
o número de crianças e adolescentes na escola, sim. Os anos de
escolaridade também. Falta muito. Mas já descobrimos que sete anos de
escola no Brasil não ensinam o mesmo que na Argentina ou no Chile. Não
garantem que a criança aprenda a ler e a escrever direito ou a fazer
contas simples de matemática.
É
falta de educação mandar Lula tratar o câncer no SUS. Qualquer pessoa
não comum evita as filas, o descaso e o despreparo da saúde pública no
Brasil. O debate ferveu. Na internet, antipetistas destilaram ódio. A
rede de proteção a Lula foi acionada. O ex-presidente não é o único a
sofrer com a falta de compostura de internautas. Todo mundo sabe – até o
Chico Buarque – que a blogosfera é fértil em ofensas anônimas de todo
tipo. Lula não é um coitadinho especial. A difamação virtual é um hábito
covarde e aleatório. Quem fez campanha contra Lula num momento tão
vulnerável demonstra baixo IDH.
Também
é falta de IDH a quantidade de brasileiros sem banheiro: 13 milhões, ou
7% da população. Esse é outro ranking, da Organização Mundial da Saúde,
e o país ocupa um insultante nono lugar. Segundo o IBGE, menos da
metade dos brasileiros (45%) tem rede de esgotos e só 38% recebem algum
tipo de tratamento. Penso o seguinte: de que adianta ter televisão numa
casa com crianças se, embaixo da janela ou junto à porta, passa uma vala
com lixo, esgoto a céu aberto e uma multidão de ratazanas?
Também
é falta de IDH o Brasil não conseguir aplicar um Enem sem fraudes ou
anulações. Estudantes no Ceará – o foco do vazamento de 13 questões –
foram às ruas com nariz de palhaço para dizer que o Enem é um circo.
Alunos de outros Estados ameaçam entrar na Justiça contra a anulação.
Não seria falta de IDH insistir no ministro da Educação, Fernando
Haddad, como candidato do PT a prefeito de São Paulo? Além de não
conseguir gerenciar direito uma prova do Enem, Haddad não sabe a
diferença entre Itaim Bibi, bairro de classe média alta da cidade, e o
Itaim Paulista, na Zona Leste. Precisa urgente de um mapa e de aulas da
Marta Suplicy.
Também
é falta de IDH a exibição bizarra de cinismo do PCdoB e de Dilma na
troca de ministros do Esporte. Ninguém entendeu nada. Orlando Silva,
acusado de fraudes milionárias em convênios irregulares com ONGs, ganha
poemas, discursos e flores? O novo ministro, Aldo Rebelo – chamado de
Rabelo por Dilma –, diz que quer fazer uma “gestão parecida” com a do
camarada destituído? Pelé e Ricardo Teixeira vão à posse para umas
embaixadinhas? Fotos mostram Silva e Sarney lado a lado, sorrindo e
aplaudindo. Olha, corrupção na política existe em todos os países. Mas
esse cinismo todo é dose.
É muita falta de IDH para o meu gosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentario.